A preocupação com o meio ambiente não é recente. Há pelo menos dois séculos, estudiosos alertam sobre os danos provocados à natureza por causa da ação humana. No entanto, após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), os problemas ambientais tornaram-se mais visíveis em função do crescimento da população global, da difusão de padrões de consumo exacerbados e da rápida industrialização e urbanização das sociedades. Com esse processo em curso, intensificou-se a pressão sobre os recursos naturais, ou seja, houve o aumento da utilização desses recursos, o que levou os debates ambientais ao âmbito mundial.
Em 1972, foi realizada a Conferência sobre Meio Ambiente Humano, em Estocolmo, capital da Suécia, a primeira organizada pelas Nações Unidas. Nesse evento, dois conjuntos de países se destacaram nos debates: os países desenvolvidos, que defenderam a necessidade de controlar o crescimento econômico de base industrial, considerado poluidor e consumidor de recursos não renováveis; e os demais países, que interpretaram a proposta daqueles como uma tentativa de impedir sua industrialização, defendendo que as preocupações com o meio ambiente não poderiam afetar seu crescimento econômico. Vinte anos depois, em 1992, os países-membros da ONU se reuniram no Rio de Janeiro, na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, para debater novamente os problemas ambientais. Conhecido como Rio-92 ou Eco-92 (figura 25), esse evento contou com a participação de 178 países e 114 chefes de Estado, que, com base na noção de desenvolvimento sustentável, lançaram as primeiras iniciativas para conciliar desenvolvimento econômico e conservação do meio ambiente.
Dez anos depois da Rio-92, realizou-se em Johanesburgo, na África do Sul, a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, conhecida também como Rio+10. Os resultados, no entanto, não foram muito satisfatórios. Assuntos importantes da pauta, como o estabelecimento de metas quanto ao uso de energias renováveis, não obtiveram avanço. Em 2012, realizou-se, na cidade do Rio de Janeiro, a Rio+20, que reiterou a necessidade da implementação do desenvolvimento sustentável; e, em 2015, em Nova York, na sede da ONU, realizou-se outra reunião que estabeleceu nova agenda do desenvolvimento sustentável (consulte a seção Navegar é preciso). Apesar da importância desses eventos, os problemas ambientais persistem de modo intenso e preocupam especialistas.
Principais problemas ambientais do século XXI
Entre os principais problemas ambientais do século XXI destacam-se a degradação do solo, as queimadas, a escassez de recursos hídricos, a ameaça à biodiversidade, o aumento do efeito estufa, entre outros.
A degradação dos solos
A degradação dos solos pode ocorrer por meio da erosão, da acidificação ou da acumulação de metais pesados, levando à diminuição de nutrientes minerais e de matéria orgânica (húmus), o que pode restringir ou inviabilizar o uso do solo para a agricultura. Vários fatores contribuem para a degradação dos solos (figura 26), entre eles: o desmatamento, que facilita a erosão superficial causada pela água da chuva e pelo vento e provoca o transporte de húmus e nutrientes, além de sulcos no solo, que podem formar voçorocas (figura 27, na página seguinte).
Outros fatores que causam a degradação dos solos são: o despejo de resíduos industriais e o uso de agrotóxicos pela agricultura, que alteram a composição química do solo; o uso de máquinas pesadas na agricultura; e a sobrepastagem. Todos eles acarretam a compactação do solo e facilitam a erosão, o transporte de nutrientes e a redução da capacidade de infiltração da água, com consequente impacto no desenvolvimento de raízes. Além disso, grande parte da população ainda desconhece as formas adequadas de trabalhar com o solo seguindo princípios técnicos capazes de evitar sua degradação. Dessa forma, torna-se necessária a implantação de programas de educação no campo que visem ao seu uso sustentável.
As queimadas
Provocadas de forma acidental ou voluntária, as queimadas são motivo de grande preocupação para governos, estudiosos e ambientalistas. Esse é um método usado por muitos agricultores, em diversas partes do mundo, para abrir ou “limpar” áreas agricultáveis ou para formação de pastagens. As queimadas destroem as camadas superficiais do solo e aceleram seu processo de desgaste e esgotamento (figura 28). Além disso, essa prática compromete o hábitat de inúmeras espécies animais e vegetais e pode contribuir para o efeito estufa. Em casos ainda mais graves, o fogo pode alcançar habitações, plantações e pastagens, provocando destruição e mortes.
A ameaça de escassez dos recursos hídricos
Atualmente, a água é considerada por muitos o “ouro” do século XXI. Tamanha valorização pode ser explicada por uma triste estimativa: em muitos países, a demanda por água cresce a cada ano, porém as reservas disponíveis não são inesgotáveis (figura 29) e o processo de dessalinização — ato de retirar o sal da água do mar a fim de torná-la potável — ainda requer o uso de tecnologia sofisticada e envolve altos custos de investimentos.
Entre os principais fatores que causam o aumento na demanda de água no mundo três se destacam: o crescimento demográfico, o desenvolvimento industrial e a expansão da agricultura irrigada. Nas últimas duas décadas, por exemplo, a agricultura foi responsável pela maior parte da extração de água doce. Atualmente, em âmbito planetário, estima-se que cerca de 70% dos recursos hídricos disponíveis são consumidos por atividades de irrigação. Enquanto a quantidade de água doce disponível para o consumo humano está declinando mundialmente, especialistas afirmam que até 2050 a demanda por água crescerá 18% nos países desenvolvidos e 50% nos demais. O aumento dessa demanda se tornará intolerável em países com recursos hídricos escassos.
Essa escassez afeta cerca de 30 países, cujas reservas de água são inferiores a 1.000 metros cúbicos por pessoa ao ano. Somam-se a esses problemas as desigualdades no acesso e no consumo desse recurso vital: enquanto uma família de classe média nos Estados Unidos consome em média 2 mil litros de água por dia, na África esse consumo é de apenas 150 litros, sem contar a dificuldade de acesso, pois milhões de famílias ainda precisam percorrer longas distâncias para obter água.
A questão se agrava diante de outro número: sabe-se que mais de 50% dos rios da superfície terrestre estão poluídos ou em vias de se esgotarem em razão do desperdício e da má gestão dos recursos hídricos. Entre os grandes rios que correm perigo estão o Amarelo, ou Huang-Ho, na China, o Colorado, nos Estados Unidos, o Nilo, no Egito, e o Volga, na Rússia. Para evitar o fim dos recursos hídricos e garantir que as próximas gerações possam usufruí-los, é preciso adotar novas ações para o uso da água — desde a economia cotidiana, nos domicílios, na escola e em outros lugares públicos, até o estímulo de políticas públicas que garantam o uso sustentável desse recurso.
A biodiversidade em perigo
Na Rio-92 foi estabelecida a Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), que a partir de então passou a orientar ações em vários países para a conservação da biodiversidade, o uso sustentável de seus componentes e a repartição justa e equitativa dos benefícios derivados da utilização dos recursos genéticos. De fato, a preservação da biodiversidade é um dos grandes desafios ambientais do século XXI. Grande parte dos problemas ambientais apresentados até aqui leva à destruição de espécies animais e vegetais indispensáveis para a manutenção da vida no planeta.
Os desmatamentos, a exploração madeireira, a construção de barragens, a exploração mineral e o desenvolvimento urbano, entre outras ações humanas, têm elevado as taxas de extinção de espécies em várias partes do planeta. Nas últimas décadas, por exemplo, o Índice Global do Planeta Vivo — que indica alterações da biodiversidade mundial acompanhando o crescimento de 14.152 populações de 3.706 mamíferos, aves, répteis, anfíbios e peixes de diferentes biomas e regiões — mostra que, de 1970 a 2012, houve um declínio global de 58% na saúde da biodiversidade, ou seja, houve diminuição na abundância de espécies ao longo desse período.
Fonte: Expedições geográficas / Melhem Adas, Sergio Adas. — 3. ed. — São Paulo : Moderna, 2018.