Henri Lefebvre e sua tríade teórica que possibilitou estudos de Milton Santos e David Harvey

Henri Lefebvre (1901-1991) foi um importante filósofo marxista e sociólogo francês. Estudou filosofia na Universidade de Paris, onde se graduou em Filosofia em 1920.

Também realizou estudos referentes ao espaço urbano, escrevendo obras importantes como O direito à cidade, em 1969, e A revolução urbana, em 1970, nos quais o autor analisa a influência do sistema econômico capitalista no espaço urbano, com base na necessidade do poder industrial “modelar” a cidade de acordo com os seus interesses, mas sem excluir a influência de outros agentes sociais.

Cunhou o termo “Direito à cidade” com o qual defendeu que a população deveria ter acesso à vida urbana e que foi desenvolvido no livro de mesmo nome publicado em 1968 em francês: “Le droit à la ville”.

Em seus livros sobre o espaço urbano, como o Direito à cidade (1968) e A revolução urbana, em (1970), nas quais analisa a influência do sistema econômico capitalista no espaço urbano, com base na necessidade do poder industrial de “modelar” a cidade de acordo com os seus interesses, mas sem excluir a influência de outros agentes sociais.

A obra de Henri Lefebvre é bastante extensa (escreveu mais de 70 livros), abrangendo análises do marxismo no século XX à luz dos textos do próprio Marx, e mantendo intenso debate com grandes filósofos da época, como Sartre. Opunha-se aos marxistas ”’empiriocriticistas”’ que, segundo ele, imobilizaram a teoria, tomando o discurso em absoluto e substituindo a vivência (vivido) pelo saber (concebido). Criticava os althusserianos por apagar a ação dos sujeitos no processo de comunicação. Segundo ele, fatores importantes como a vivência dos receptores, a “decodificação pelo cotidiano”, as mediações e os lugares dos sujeitos foram esquecidos.

Seus debates sobre o marxismo o levaram a separar os textos de Marx dos textos produzidos sobre Marx. Segundo Lefebvre, muitos marxistas mataram a dialética, travando o movimento histórico pela consolidação do Estado e pelo pessimismo.

Em seus estudos, muito otimistas, recusava-se a criar modelos teóricos e a estabelecer programas de desenvolvimento (ver A revolução Urbana). Sua teoria não possui contornos fixos, pois, aos moldes da escrita de Nietzsche, a linguagem de Lefebvre possui algo de poético, numa clara tentativa de reencontrar a totalidade do social, possível pela obra, em oposição ao produto (real-ficção fragmentada da realidade), resultado do trabalho alienado.

No Brasil, são raras as publicações do filósofo. Em língua portuguesa há em torno de 1/3 de suas obras – em grande parte anteriores à década de 1970. A partir dos anos 2000 foram publicados, no Brasil: ‘A Revolução UrbanaEspaço e Política e O Vale de CampanPorém, uma de suas obras mais importantes, O Estado (em quatro tomos) não foi traduzida em portuguêsEm 2020, foi publicado pela Lavra Palavra Editorial a obra O pensamento de Lênin.

Um importante estudo que demonstra bem a amplitude e densidade da obra deste filósofo é o livro organizado por José de Souza Martins: Henri Lefebvre e o retorno à dialética.

Filósofo e sociólogo, seus estudos contribuíram também para o desenvolvimento da sociologia e da geografia. Na sociologia, destaca-se a produção do método regressivo-progressivo, utilizado por Sartre em Crítica da Razão Dialética. Sua contribuição para a geografia foi mais profunda, pois toda a teoria atual desta disciplina se deve à tese de que o espaço é social, ou seja, é socialmente produzido. Sua tríade teórica: vivido – percebido – concebido, possibilitou os estudos de David Harvey e Milton Santos, grandes nomes da geografia contemporânea.