“Marie Tharp apostou que seus mapas falariam por si só, já que os cientistas da época duvidavam de sua palavra.”
Lothar havia sido ridicularizado pela comunidade científica quando sugeriu que todos os continentes, há milhares de anos, teriam formado uma grande massa de terra, à qual ele deu o nome de Pangeia (Terra única, em grego).
Em seus estudos, Marie Tharp e Bruce Heezen mostraram que a separação dos continentes aconteceu graças ao movimento das placas tectônicas e que o meteorologista alemão estava correto.
Durante mais da metade do século 20, a maioria das mulheres foi excluída das carreiras científicas. As que chegavam a ter um diploma, mantinham-se em posições consideradas inferiores, como assistentes de pesquisa. Para outras, o espaço era inatingível. De acordo com o livro “Women of Science”, as mulheres representavam cerca de 4% dos cientistas no mundo entre os anos de 1920 e 1970.
Como Marie Tharp fez sua descoberta
Tharp nasceu em 1920 em Michigan, nos EUA. Durante a infância acompanhou as viagens de seu pai, um topógrafo que trabalhava para o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, coletando amostras de solo para seu trabalho. A convivência despertou o interesse por geologia e, mais adiante, por cartografia.
No período da Segunda Guerra Mundial, com a maioria dos homens deixando seus postos para ir lutar na guerra, mulheres tiveram a chance de ocupar esses espaços. Foi assim que Marie Tharp entrou no programa de mestrado em geologia na Universidade de Michigan.
Em 1948, ela se tornou assistente de pesquisa na Universidade de Columbia e ali conheceu o oceanógrafo Bruce Heezen, com quem teve uma parceria que duraria toda sua vida.
Enquanto trabalhavam juntos, Tharp ficava no laboratório da universidade catalogando as amostras que Heezen coletava. Na época, mulheres eram proibidas de realizar trabalho de campo, porque acreditava-se que elas poderiam trazer má sorte.
Durante os 5 anos da expedição que Heezen ficou em campo, Tharp fez cálculos e transformou os dados que recebeu em desenhos, demarcando as fissuras e cicatrizes presentes no fundo do oceano. Diferentemente das teorias anteriores de que o fundo do oceano era uma superfície lisa e intacta, ela descobriu que sua geologia era na verdade bastante complexa. Com vales, montanhas e cicatrizes em toda sua superfície. A descoberta parecia comprovar a teoria de que a terra era mesmo formada por um único continente. A confirmação, no entanto, suscitou a suspeita de seu colega de trabalho. A teoria da Pangeia era vista com desconfiança pela comunidade científica à época. O próprio Heezen chamou o achado de Tharp de “papo de garota”.
“Quando eu mostrei o que achei para Bruce, ele gemeu e disse ‘Não pode ser isso. Parece muito com a teoria da Deriva Continental’. E bem, naquele tempo, acreditar nessa teoria era considerado uma heresia científica. Quase todo mundo nos Estados Unidos pensava que essa teoria era impossível. E Bruce inicialmente recusou minha interpretação e disse que era ‘papo de garota.’”
A confirmação da teoria
E em 2009, três anos após a morte de Tharp, o Google Earth incorporou o mapa de Tharp e Bruce em sua ferramenta para as pessoas vasculharem o fundo do oceano.”
FONTE: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2017/02/20/A-primeira-geóloga-a-mapear-o-fundo-do-oceano-ouviu-que-sua-teoria-era-‘papo-de-garota’